14 abril 2014

Resenha: Crime e Castigo






Autor: Fiódor Dostoiévski

Editora: Editora 34
Páginas: 561
Assunto: Reflexões, Filosofia, Clássico, História que nos faz divagar
Sinopse: Publicado em 1866, Crime e Castigo é a obra mais célebre de Fiódor Dostoiévski. Neste livro, Raskólnikov, um jovem estudante, pobre e desesperado, perambula pelas ruas de São Petesburgo até cometer um crime que tentará justificar por uma teoria: grandes homens, como César e Napoleão, foram assassinos absolvidos pela História. Este ato desencadeia uma narrativa labiríntica que arrasta o leitor por becos, tabernas e pequenos cômodos, povoados de personagens que lutam para preservar sua dignidade contra as várias formas da tirania.













Uma reflexão sobre crime e castigo em forma de história



  Há tempos tinha ouvido falar deste livro, num vídeo sobre sebos. A menina contava que tinha conseguido comprar sua edição por um bom preço num sebo, e que os livros do autor nessas edições (se não me engano eram essas) costumavam ser caros. Por isso mesmo, grande foi minha alegria ao encontrar este livro numa edição que não causa alergias por mofo e poeira na biblioteca do meu colégio. Claro que eu quis ler o quanto antes, mas ainda levei um dia para pensar. Pesquisei um pouco mais sobre ele na internet e soube que era o momento de lê-lo sim. Não sei, mas eu estava num momento de encarar livros mais maduros, complexos... Crime e Castigo veio no momento certo. O livro conta a história de Raskólnikov, um ex-estudante que ao refletir, cria uma teoria bem intrigante, sobre o crime e o castigo, chegando até mesmo a aplicá-la e a descobrir por si mesmo a realidade sobre ela. Por isso mesmo, o livro traz uma reflexão muito legal sobre a natureza do crime. É muito comum ver as pessoas falando na nossa sociedade, que tal pessoa que fez ou faz certo tipo de coisa merecia isso ou aquilo, e também é comum ver, na nossa história, personagens que tiveram a permissão de matar no seu contexto. Aliás, até hoje em dia vemos assassinos perdoados pelo seu contexto. Mas a questão é: quem está certo ou errado? É certo matar alguém em prol de algum motivo maior, de alguma justificativa? Quem somos nós para julgar e determinar isso, através de nossa limitada e mundana visão? Sim, o livro traz muitas reflexões, mas também narra uma história. E não, eu não achei complexo como ouço pessoas falarem por aí, quase como se essa leitura fosse restrita ou representasse algo. Acho que na verdade, só significa que você se interessa pelo assunto e gosta de refletir, como eu. Mas de modo algum faz de ninguém diferente e único, como Raskólnikov se julga a princípio.


    Raskólnikov começa se questionando se deve levar sua ideia de cumprir a teoria adiante. A ideia que ele formula é a seguinte: durante toda a história, figuras importantes mataram e assassinaram em prol de uma espécie de bem maior, de um motivo, e foram perdoados pelo seu tempo. Então, existiriam seres humanos extraordinários, que poderiam matar e seres humanos que não poderiam, pois seriam julgados como todos, enquanto os extraordinários seriam absorvidos. Só que Raskólnikov se julga um ser extraordinário, que pôde conceber essa ideia, e que diante de um bem maior, poderia pô-la em prática. A teoria que ele pensa em cumprir? Matar uma velha usurária, de quem ninguém sentiria falta, para pegar o dinheiro dela e distribuir a quem precisasse, pois ela mesma detinha o que não precisava, segundo ele. E eis que vem a reflexão: ele está certo em supor que teria o direito de decidir isso? Quem disse que ele é alguma espécie de juiz? E você, aí, sentando vendo o noticiário e dizendo que tinha que acontecer isso e isso? Você pode ser um juiz dentro de toda sua visão limitada? Quem pode dar a certeza disso? Eis que os grandes egos sempre pensarão saber de tudo, mas a verdade é que ninguém sabe de tudo. E Raskólnikov descobrirá isso mais adiante na história. Ele segue sua teoria, e diante das circunstâncias, acaba assassinando também a irmã da velha usurária. São dois assassinatos. E a princípio, ninguém desconfia dele. Tudo bem, ele pensa na teoria e executa o crime. Que ideia você tem dele agora? Um assassino frio e calculista? Inabalável por tudo? Se é essa a visão que você montou em sua mente, sinto dizer que está ela está errada. Raskólnikov até antes de cometer o crime já se mostra perturbado, e depois, ainda mais, chegando a ficar até doente. 


     Outro aspecto interessante, ligado à doença do personagem, é que o autor coloca a reflexão do crime vir acompanhado de uma doença, que não se sabe quem é o efeito nem quem é a causa. Ou seja, é dito que o criminoso ao praticar um crime tem a presença constante de uma doença, que lhe abate de alguma forma. Eu interpretei isso como uma doença da alma, e ao meu ver, como algo que poderia até ser disfarçado por uma ilusão. Como se o crime fosse uma mancha na alma, na vida de quem o comete. A questão que fica é: é a doença que surge e faz com que o crime seja cometido, ou o crime que é cometido e gera a doença? Eu acredito que seja a doença que leve ao crime. E você? Em Crime e Castigo, Raskólnikov, como eu disse, já fica perturbado antes do crime, e chega a cair doente, em uma espécie de delírio após cometê-lo. É como se fosse uma junção de doença física e psicológica, o que eu interpretei como uma metáfora para exemplificar o crime. Até pela questão de vermos mais no final uma ligação com o cristianismo, na redenção do personagem ao crer em alguns conceitos recorrentes de seu final. O personagem até mesmo sofre com a culpa, vendo em tudo um indício de sua acusação, e várias vezes se vê também tentado a confessar o que fez, mas não o faz. Pouco a pouco a trama caminha para a descoberta crucial, enquanto ele se vê torturado pela culpa. Mas acredito que até os que não se sentem culpados carreguem uma doença... Aliás, para mim, esses são os mais doentes.

    



 "Segundo sua convicção, ocorre que esse eclipse da razão e esse abatimento da vontade se apossam do homem como uma doença, evoluem gradualmente e chegam ao ponto máximo um pouco antes do cometimento do crime; continuam da mesma forma no próprio momento do crime e algum tempo depois dele, dependendo do indivíduo; em seguida passam da mesma forma como passa qualquer doença. Mas a questão: é a doença que gera o crime ou o próprio crime, por sua natureza específica, de certa forma é sempre acompanhado de algo como uma doença?"






    Há outros personagens na vida de  Raskólnikov que se preocupam com ele. Aparecem sua mãe, sua irmã e um amigo dedicado. Todos lhe prestam cuidados no decorrer de sua doença aparentemente sem causa. E em meio a ele andando pela cidade e encontrando essas pessoas, dialogando com elas, e reagindo a elas, vamos analisando-o e compreendendo essas e outras mensagens que o autor passa. Ainda há a descoberta de um sentimento maior, que redime o personagem ao final, fazendo com que ele até mesmo se recupere depois de outro fator. E é aí que entram concepções cristãs. Outro detalhe importante é que o livro é russo, se você não percebeu, e se passa na época do Czar, o que é muito legal, se você, como eu, está estudando, já estudou ou se interessa por esse contexto e pelo contexto anterior (por aí) à Revolução Russa. Em alguns momentos a leitura não flui fácil, afinal, é um clássico. Tem horas em que eu lia e viajava, mas nem voltava para ver o que tinha acontecido porque eu sabia que não era importante. E por ser russo também, tem muitos nomes nesse idioma, o que me deixou confusa, porque até apelidos entram na história. O bom da edição que eu li é que há notas de rodapé explicando os nomes e expressões que aparecem referentes a tal idioma. Além de outras explicações, inclusive sobre a vida do autor e a relação com a história. Além disso, ainda há um texto, uma espécie de introdução, do tradutor que faz com que tenhamos um apanhado maior da obra. Então, apesar de não conhecer as outras edições, eu recomendo esta, porque ela fez com que eu entendesse tudo e ainda fosse além. Vale realmente a pena investir nela. E é claro que você pode fazer como a menina citada no início deste post, procurar num sebo. Bom, ela deu a sorte de achar. Por que não nós? 

   Em outras palavras, se você é um leitor que prefere leituras mais dinâmicas e divertidas, descontraídas e que nos fazem esquecer de tudo, talvez você ache este livro chato. Se você não gosta de ler (o que seria difícil, já que está lendo esta resenha), melhor começar por outros gêneros, a não ser que se interesse mesmo pelo assunto. A narrativa de Dostoiévski é boa, mas é de muito tempo atrás, pode ser chata de ler para quem não está acostumado a linguagens um pouco mais rebuscadas. Mas não é nenhum monstro de sete cabeças. Eu li e adorei, como eu disse, estava bem no clima do livro. Só demorei a ler, porque além de não ter muito tempo para fazer isto ultimamente, eu senti necessidade de realmente ir com calma. Não deu para ir atropelando tudo e devorando sem pausa como eu faço com um New Adult, mas mesmo assim, foi uma leitura saborosa, que não deixou a desejar no campo da reflexão. É o tipo de livro que muda nossa visão de mundo, que nos faz questionar os discursos que a nossa sociedade lança por aí, como o senso comum de condenação a tudo sem nem ao menos investigar fatores anteriores ou pensar em melhores saídas. Até mesmo nas ideias dos sistemas nós podemos pensar, como o Capitalismo, Socialismo e etc... a deixa é que: será que esses sistemas poderiam ser aplicados à complexidade da vida como uma equação matemática que tudo se encaixaria perfeitamente como na teoria? E qual o melhor? Poderia qualquer um deles resolver todos os nossos problemas? Para mim a resposta é não. Há muitas complexidades que esses e outros sistemas não levam em conta. Enfim, deu para perceber que você vai ser obrigado a pensar lendo este livro, não deu? Espero que você goste e se interesse para poder comentar comigo sobre a leitura. 

   Boas viagens!
























11 comentários:

  1. Não conhecia o livro e achei interessante o pensamento do personagem principal e o que ele julga achar explicável para justificar seus crimes. Mas não sei se leria agora..
    bj, dréa

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  2. Eita, então acho que vou achar esse livro chato huahuahuahua. Dessa vez vou deixar a sua dica passar, Vivinha.

    beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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  3. Oi Amiga!
    Parabéns por ler livros assim, juro, é muita "intectualidade" pra mim... hahaha
    Não é meu tipo de livro... Não consigo gostar e entender ... =(

    Beijinhos
    Sou eu... Pri!

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  4. Adorei sua resenha, mas acho que não sentirei vontade de ler ele. Sei que não li o livro, mas acho que ele é um psicopata. uashuhasuasuhs
    Beijoos!

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  5. Oi Vivian, super bacana poder conferir a resenha deste livro, confesso que não é um livro que leria agora, mas como já tinha falado em outras postagens gosto bastante de variar minhas leituras e este parece ser realmente uma ótima dica!!
    Beijos!!

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  6. Oi, Vivian
    Preciso ler mais clássicos. Quem sabe não começo poe esse livro? Não li nada do autor ainda.

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  7. Já tinha ouvido falar desse livro e do autor também, mas nunca parei pra ler algo dele. Faço parte do grupo de leitores que preferem as tramas mais aceleradas, o que poderia me causar uma certa estranheza ao ler esse livro. Mas, muitas vezes, gosto de fugir da minha zona de conforto e ler algo mais reflexivo. Creio que esse é uma boa pedida, mesmo tendo essa escrita um pouco mais rebuscada. Vou tentar ler em breve.

    @_Dom_Dom

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  8. Olá.
    Não gostei da capa e a sinopse não me interessou muito.
    Mas acho bem legal quem gosta desses livros.
    Beijinhos!

    Www.eraumavezolivro.blogspot.com.br

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  9. Realmente o livro é muito complexo e massante. Os nomes com 65 consoantes (rs) e os apelidos fazem a gente se perder. Eu cheguei a pirar junto com o Raskólnikov e suas alucinações. Eu tive um entendimento diferente do livro, assim como milhares de outras pessoas. Creio que o Castigo do título seja justamente essa doença mental que o acometeu. O crime não compensa.

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  10. Comecei a ler a pouco tempo e não resisti em encontrar algo que confirmasse se a leitura é realmente boa,mas sua resenha deixou bem claro que sim kk.
    Izumiy.blogspot.com

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  11. Comecei a ler a pouco tempo e não resisti em encontrar algo que confirmasse se a leitura é realmente boa,mas sua resenha deixou bem claro que sim kk.
    Izumiy.blogspot.com

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