21 maio 2014

Resenha: A Menina que Roubava Livros






Autor: Markus Zusak

Editora: Intrínseca
Assunto: Segunda Guerra, morte como narradora
Páginas: 479
Sinopse: A trajetória de Liesel Meminger é contada por uma narradora mórbida, surpreendentemente simpática. Ao perceber que a pequena ladra de livros lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943. Traços de uma sobrevivente: a mãe comunista, perseguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúrbio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que deixa cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surrupiar ao longo dos anos. O único vínculo com a família é esta obra, que ela ainda não sabe ler.
Assombrada por pesadelos, ela compensa o medo e a solidão das noites com a conivência do pai adotivo, um pintor de parede bonachão que lhe dá lições de leitura. Alfabetizada sob vistas grossas da madrasta, Liesel canaliza urgências para a literatura. Em tempos de livros incendiados, ela os furta, ou os lê na biblioteca do prefeito da cidade.
A vida ao redor é a pseudo-realidade criada em torno do culto a Hitler na Segunda Guerra. Ela assiste à eufórica celebração do aniversário do Führer pela vizinhança. Teme a dona da loja da esquina, colaboradora do Terceiro Reich. Faz amizade com um garoto obrigado a integrar a Juventude Hitlerista. E ajuda o pai a esconder no porão um judeu que escreve livros artesanais para contar a sua parte naquela História. A Morte, perplexa diante da violência humana, dá um tom leve e divertido à narrativa deste duro confronto entre a infância perdida e a crueldade do mundo adulto, um sucesso absoluto - e raro - de crítica e público.






     A Menina que Roubava livros é um daqueles livros para os quais não nos cansamos de tecer elogios. Há uma história emocionante, a fantástica ideia da narração pelo ponto de vista da morte, uma história durante a segunda guerra que não fala só do fato ou traça apenas o lado dos que detinham significativa importância histórica, mas que apresenta um outro olhar, do ponto de vista dos alemães que viveram aquilo. É comum o lado alemão ser sempre retratado com um olhar de repulsa, quando falamos da Segunda Guerra Mundial, mas este livro nos lembra que ali no meio da população há pessoas como nós, que nasceram em determinado lugar e estão apenas vivendo suas vidas, e que elas podem concordar com as ideologias vigentes, ou não. No caso, os personagens principais possuem um bom senso de humanidade, e claro, não concordam com o que acontece por lá. Mas o que eles poderiam fazer? Mais do que falar a respeito de uma certa menina que roubava livros, a morte tece uma história que tem muito a oferecer, em uma linda forma de narração poética, com páginas com figuras e desenhos, e diagramação e estilos que passam um efeito visual que complementa a doçura da história. É bom começar até repetindo a frase que já ouvi de muitas leitoras deste livro: "a morte aqui é fofinha".


       Explicando tudo melhor, neste livro acompanhamos a história de Liesel Meminger, a menina que roubava livros, que é simplesmente narrada pela morte. No livro, a morte é uma figura que procura apenas fazer seu trabalho, todos os dias, como necessário. Só que ela se interessa pela história de Liesel e a encontra com ela mais de uma vez. E então, acaba por encontrar um diário de Liesel que traz sua história, e enquanto você lê o livro, é o momento em que a morte para te contar uma história, que você deve parar para ler. Tudo começa quando o irmão de Liesel morre. Aí se dá o primeiro encontro delas. Claro que só a morte conta que viu Liesel. A ideia é bem aquela de chegar e levar, numa personificação super querida (isso soa mórbido? acredite se quiser, durante a narrativa não soa). Depois da morte dele, Liesel é entregue a uma família alemã, e sua mãe a deixa, por algumas questões que podem ser spoilers, além das iniciais. Neste momento ela é mais nova, e ainda há toda uma adaptação enquanto ela aprende a conviver com Hans e Rosa Hubermann. Hans passa a ser seu pai, e a relação entre eles é tão ♥! Ele é um dos personagens que possui ideias livres do geral, que tem bondade, e exerce sua humanidade. Como pai de Liesel, é sempre ele quem fica com ela todas as noites quando ela não consegue dormir, quem toca acordeão em diversos momentos, e quem a ajuda a ler seus livros a princípio. O sentimento pai e filha entre os dois é lindo. Já Rosa é uma personagem de personalidade difícil... Do tipo que xinga querendo expressar carinho. A mãe rígida, mas que devota amor. 

         Além desses personagens, há os que passam a interagir com a Liesel depois. Ela faz amizades na rua Himmel, onde vai morar. E quem se torna seu melhor amigo é Rudy, um menino que obviamente gosta dela. O menino que na Alemanha nazista se pinta com carvão porque quer ser como o Jesse Owens. É... o atleta negro que ganhou as olimpíadas e sambou na cara de Hittler. 

"- Eu só queria ser como o Jesse Owens, papai.

 (...)
 Rudy não compreendeu coisa alguma, e essa noite foi o prelúdio do que estava por vir."

          Com certeza, um dos personagens que você também vai amar, e que vai te fazer sorrir todas as vezes em que pedir um beijo à Liesel. Não podemos esquecer de que também há a mulher do prefeito, que logo se tornará amiga de Liesel, ainda que ela não saiba a princípio. 

          Em meio a tudo isso ainda há um grupo de ladrões, que acaba alimentando o hábito da menina que roubava livros, que participa de diversas aventuras com o nosso Jesse Owens. Sem falar no restante da vizinhança, que toma forma e nos faria lamentar qualquer acontecimento trágico na rua Himmel. E em quando o pai de Liesel resolve abrigar um judeu, que também vai fazer você se apaixonar, em casa. Mas, se há algo importante que este livro traz é a verdade de que um dia, todos vamos morrer. Como nas palavras iniciais da morte: "Eis um pequeno fato: Você vai morrer". E há muito nele que trata exatamente disto, da inevitabilidade da morte, e de sua passagem pela vida de quem continua vivo. No fértil campo de uma guerra, em que há inúmeros relatos da morte. Ela chega a dar até exemplos que casam com o contexto, das mortes coletivas, tanto das vítimas, como os judeus, quanto dos que iam à guerra, de uma forma tanto natural, quanto emocionante. E reflete sobre tudo isso, com uma ótima riqueza histórica, na medida do possível no que cabe em um livro de ficção. 

"Dizem que a guerra é a melhor amiga da morte, mas devo oferecer-lhe um ponto de vista diferente a esse respeito. Para mim, a guerra é como aquele novo chefe que espera o impossível. Olha por cima do ombro da gente e repete sem parar a mesma coisa: 'Apronte logo isso, apronte logo isso.' E aí a gente aumenta o trabalho. Faz o que tem que ser feito. Mas o chefe não agradece. Pede mais.

        Apesar da narrativa ser marcante e nos envolvermos com ela, há momentos em que esquecemos que a morte é quem narra a história, e nos envolvemos ao extremo com a vida de Liesel. Lisel é uma menina doce, que oferece muita margem para que possamos nos identificar com ela. Ela descobre o prazer de aprender e de amar as palavras. Os prazeres da leitura. Para ela, um livro também é o melhor presente. Claro que cabe dizer até mesmo que ela é fofa. Há toda uma perspectiva mais inocente, de acordo com a infância, em sua história. E claro, os aprendizados sobre a vida e o mundo. Por todos esses fatores e uma escrita fascinante, o livro de Markus Zusak deve ter sua mensagem levada a sério. Você realmente precisa parar para ler. Só não se esqueça de ter por perto uns lencinhos para o final. ;)






O filme do livro, como sempre, tem suas diferenças. Até a Rosa fica mais doce, menos impactante do que é no livro. E nós perdemos um pouco o efeito visual e os grandes quotes e spoilers, que a morte dá, sem querer ou por querer. Mas é claro que o filme também pode comover e expressar bem aquilo que se imagina na leitura (dentro das limitações que as adaptações sempre têm). A morte ainda fala no filme, numa voz, e deixa sua emoção no início e no fim.
Por isso, apesar do livro ser melhor, o filme também é super recomendado! Pare para assistir!


Boas leituras!











Um comentário:

  1. Grande livro e o filme foi bom tanbém.
    Sempre me admire da criatividade dos escritoires ao abordarem o tema do nazismo, e, ao lado dos horrors da Guerra, revelarem os mais belos aspectos dos seres humanos.
    Não concordo com o título – a menino não roubava livros, apenas um deles. Verdade é que os livros representaram papel fundamental em sua vida e em seu crescimento. Um dos mais belos capítulos, na minha opinião, é aquele em que seu amigo a presenteia com um livro manufaturado, todo cheio de desenhos especiais.
    É um livro sobro o poder de influencia dos livros, sua capacidade de criar e manter esperança, e de unir as pessoas.

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