11 janeiro 2014

Resenha: Eu sou Malala







Autoras: Malala Yousafzai e Christina Lamb

Assunto: Biografia, atividades políticas, direito à educação, mulheres - direitos, Paquistão - Condições sociais, Malala Yousafzai.
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 342
Sinopse: Quando o Talibã tomou controle do vale do Swat, uma menina levantou a voz. Malala Yousafzai recusou-se a permanecer em silêncio e lutou pelo seu direito à educação. Mas em 9 de outubro de 2012, uma terça-feira, ela quase pagou o preço com a vida. Malala foi atingida na cabeça por um tiro à queima-roupa dentro do ônibus no qual voltava da escola. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. Mas a recuperação milagrosa de Malala a levou em uma viagem extraordinária de um vale remoto no norte do Paquistão para as salas das Nações Unidas em Nova York. Aos dezesseis anos, ela se tornou um símbolo global de protesto pacífico e a candidata mais jovem da história a receber o Prêmio Nobel da Paz. Eu sou Malala é a história de uma família exilada pelo terrorismo global, da luta pelo direito à educação feminina e dos obstáculos à valorização da mulher em uma sociedade que valoriza filhos homens. O livro acompanha a infância da garota no Paquistão, os primeiros anos de vida escolar, as asperezas da vida numa região marcada pela desigualdade social, as belezas do deserto e as trevas da vida sob o Talibã. Escrito em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, este livro é uma janela para a singularidade poderosa de uma menina cheia de brio e talento, mas também para um universo religioso e cultural cheio de interdições e particularidades, muitas vezes incompreendido pelo Ocidente. “Sentar numa cadeira, ler meus livros rodeada pelos meus amigos é um direito meu”, ela diz numa das últimas passagens do livro. A história de Malala renova a crença na capacidade de uma pessoa de inspirar e modificar o mundo.





"Malala será livre como um pássaro"


  Ziauddin, pai de Malala, sempre disse que a filha seria livre como um pássaro, num contexto onde isso não poderia se concretizar com tanta facilidade. Mas Malala se tornou muito mais que livre como um pássaro, Malala se tornou livre, sim, capaz de alcançar voo em muitos lugares e de conduzir os olhares do mundo em uma única direção. Malala rezava pedindo que se tornasse grande, que tivesse alguns centímetros a mais, e conheceu a verdadeira grandeza. E é com muita alegria que posso realizar esta resenha para falar a respeito de Malala, que com uma leitura, se tornou minha heroína. Eu sou Malala é a biografia de Malala Yousafzai, conhecida pelo mundo como a garota que foi baleada pelo Talibã. Mas que após a leitura deste livro, passa a ser conhecida pelo leitor como uma alma rara na Terra. Uma pessoa especialmente única, capaz de levar voz à milhares de injustiças sofridas silenciosamente diante de nós. E especialmente, uma garota comum, com receios e preocupações comuns, porém com um caráter e um modo de pensar que a tornam especial. Ah... se o mundo tivesse mais Malalas!

  
   Em sua biografia, escrita com a jornalista Christina Lamb, acompanhamos desde o seu nascimento ao que seriam seus dias atuais, tudo através de seu ponto de vista. E desde o início somos surpreendidos pelas diferenças de convivência que Malala possuía no Swat, lugar onde morava antes do dia que mudou sua vida. Coisas que são consideradas comuns por nós, para ela e sua família são grandes novidades numa casa. Fora toda a mudança cultural por que passa. Mas isso é assunto posterior. Desde o nascimento de Malala é possível notar o enorme descaso com que a sociedade em que vivia tratava as mulheres. Quando um menino nasce, todos comemoram, porém, quando Malala nasceu, poucos foram a visitar. Apenas pelo fato de ter nascido ali uma menina, cuja função para aquele mundo seria cozinhar e procriar. E quanto mais eu lia, mais chocada eu ficava com as diferenças que apareciam. Nem ir sozinha à rua uma mulher podia! Desde antes do Talibã chegar, já existiam regras que diminuíam e restringiam a mulher. E depois, o extremismo trouxe o verdadeiro caos. 

   Por sorte, Malala nasceu numa família privilegiada, com um pai revolucionário, que vê o mundo de forma mais justa e luta para que seja justo onde há injustiça. Ele comemorou o nascimento de Malala, e lhe deu o nome de uma heroína de sua cultura, que possuiu grande papel na história. Um bom marido, que ouve conselhos da esposa e a ama, diferente dos outros homens de seu contexto, que muitas vezes nem falam com as respectivas esposas. E um pai exemplar, que foi capaz de influenciar Malala a ser o espírito avançado que é hoje. Também destemido, persiste e luta em causas importantes e não dá os sonhos por vencidos. Malala o vê com admiração e inspiração, e não poderia ser diferente. 





   O livro quebra muito o preconceito que se tem com o Paquistão. A TV passa imagens de terrorismo, guerras, ataques ao Ocidente por insanidade, e faz a completa caveira de países do Oriente Médio. Como sempre, há o conflito de interesses, e a imagem passada para a população é a que interessa aos poderosos. Nas palavras de Malala, vemos que ali há muito mais que destruição e insanidade, há pessoas de bem, há pessoas controladas por entidades, e que se deixam levar devido à sua ignorância. E que também, principalmente antes da invasão do Talibã, ali havia muita beleza e sabedoria. A natureza belíssima, lugares para turismo, locais até voltados para o budismo. E acompanhamos, com indignação a destruição de tudo aquilo. Também é muito perceptível o modo como no próprio Swat, a mídia também exerce poder, também pode controlar as pessoas como aparelho de dominação consentida. É claro, gritante para quem quiser ver, o modo como o Talibã dominou o vale e em pouco tempo o país, através de uma rádio clandestina. Uma dominação carismática, como Hitler e seu exército de nazistas, que pouco a pouco convenceu as pessoas de que somente um grupo era o centro do universo. A população foi se deixando levar, primeiro contagiada pelas palavras que vinham do Islã, e depois, aqueles que não pararam para refletir porque nem sabiam, pois não tinham muito acesso à educação, foram se contagiando pelas palavras mais radicais. Em pouco tempo, postos policiais foram tomados e o Swat estava em mãos talibãs. Logo depois, o país. Sem nenhuma intromissão do governo, que alegava nada fazer pois se agia pelo Islã. Malala e sua família são muçulmanos, porém sabem muito bem que sua religião não diz aquilo, não prega o que o Talibã prega. O Corão não manda que as pessoas coloquem uma bomba em si mesmas e se explodam, nem que se feche todas as escolas. Porém, diante de um país tomado pelo medo e controlado militarmente por aquelas forças, o que se poderia fazer?

   Fiquei muito feliz em saber que um livro com tais palavras foi publicado. Um livro que expõe a verdade e expõe muitos conflitos políticos que nossos meios de comunicação tanto camuflam. Eu sou Malala nos faz pensar, refletir, acordar para causas impensadas anteriormente e ver mais provas de como o ser humano pode chegar a níveis tão horrendos de crueldade, ignorância e egoísmo. Nos faz ver que naqueles que se põem como tão poderosos diante o mundo são os que mais possuem fraquezas em sua alma, pois não se importam com os outros, só pensam em si e no que podem acumular com aquilo, e no final do dia, se encontram sozinhos e secos por dentro, verdadeiramente debilitados às custas do sofrimento alheio. Me pergunto o que teria acontecido com Malala, se ela não tivesse alcançado tanta gente antes do acidente, e se seu pai não se tornasse um homem influente. Talvez fosse mais uma morte abafada em meio a tantas injustiças. Mas ainda bem que Malala foi premiada para nós, mostrando ao mundo algo que ocorre bem ali, mas com que as pessoas não se importam. Algo para verem no jornal ou na televisão, murmurarem algo como "que triste" e voltarem a se preocupar com seus próprios problemas. Porque não são os problemas delas. Não são elas que possuem sua liberdade restringida, a guerra nas portas de sua casa, açoitamentos na rua pelo que consideramos normal, e ácido nos rostos por simplesmente querer frequentar a escola. 

   Malala possui um amor enorme pelo conhecimento e pela educação, e acredita que são fatores que podem mudar o mundo. Eu concordo, mas acrescento que deveriam ensinar nas escolas, em todas, principalmente a se pensar e a se valorizar o que têm. Pois infelizmente, pelo menos no Brasil, muitos não fazem isso. Preferem passar para seus assuntos fúteis e ignorar a realidade, como se aquele mísero detalhe fosse o maior problema do mundo, preferem se jogar ao nada a ter que frequentar a escola. Quantas oportunidades não são dadas e não são valorizadas por aqui! Alguns jovens encaram a escola como algo a ser ignorado, um fardo a se carregar, e se consideram o máximo por conseguirem quebrar regras e fugir daquilo que pode os tornar melhor. Mentes vazias, oportunidades jogadas fora, coisas que poderiam mudar o mundo rejeitadas pelo discurso do ócio. Há toda uma ideologia para fazer com que a educação seja vista como algo dispensável e inútil, e para enaltecer aqueles que dela fogem. Gostaria de pedir a estes que a consideram assim, que parassem para observar o que levou o Talibã a querer acabar com todas as escolas. Quem pensa se torna perigoso, pode questionar, reivindicar seus direitos e interpretar as situações, evitar que coisas ruins aconteçam. Inclusive, melhorar a educação que anda tão ruim em alguns lugares. 





    Cuidado, também, aos que sabem demais, para não serem sufocados pela presunção. Malala, ainda jovem, mostra que por mais que saibamos algo, é preciso ir atrás de mais, mostra que a educação não vem sem esforço. O conhecimento não é algo que magicamente cai para dentro de nossa cabeça, as teorias de conspiração que formulamos não são a verdade absoluta, e ainda mais, é preciso reconhecer a própria ignorância diante de tudo, diante do mundo, não importa onde se tenha chegado. Malala nos conta acontecimentos de sua infância e acaba ainda, nos fazendo refletir sobre a vida. Como na vez em que ela foi pega roubando e soube que aquilo era errado, ou quando percebeu que para conquistar o conhecimento, precisava de esforço. Além disso, mostra que é preciso lutar para se modificar uma situação. E que crê no que acha correto, apoiando que a mensagem seja passada através dos argumentos e do convencimento, pois se a mensagem é verdadeira, não precisa da força para ser absorvida. Malala vê tudo com uma visão indescritível para seu contexto, evoluída, e ela não é cética, ultra racional e desesperada para ler teorias e interpretar o mundo, apesar de gostar de estudar. Malala também usa o coração. Acredita na religião dela, mas interpreta por si, pelo seu coração. E apesar de viver em meio a tantas ideologias, consegue enxergar por si mesma o contrário do que lhe é gritado do lugar onde nasceu, consegue ver que jovens como ela têm direito à educação e à liberdade, e que não merecem sofrer por simplesmente quererem aprender.




    Eu sou Malala é um livro genial, que além de contar a vida de Malala Yousafzai, nos faz refletir sobre nós mesmos, sobre nossas vidas e nosso papel no mundo, nos faz pensar no outro, a ver que no mundo há gente com problemas de verdade. Um livro tocante, que mostra o medo e a aflição de viver em meio a um regime brutal como o Talibã, e a luta através da palavra diante o mundo, para reverter tal situação. O desafio de ter sido baleada por apenas querer viver, estudar, e como Malala usou isso para intensificar ainda mais a luta em busca de maiores igualdades e direitos, para as mulheres, crianças, para todos! Uma leitura mais que recomendada, mas obrigatória, para pensar, refletir, aprender, sorrir e se motivar a lutar por um mundo melhor. Obrigada, Malala, por motivar tal luta. Desejo sinceramente que a humanidade consiga melhorar a ponto de deixar tais preceitos tão arcaicos de lado, para que possamos viver todos em paz. Paz e melhorias para um mundo melhor! Gostaria muito de ser sua colega de classe.








  Também gostaria de agradecer ao Dr. Marcio Bermanzon por me incentivar a ler algo tão fantástico. Obrigada!


Visite a fanpage Malala Fund e acompanhe Malala e sua campanha pelo mundo.




 Obs: Perdão pela resenha enorme, desejo de coração que vocês leiam. Eu sou Malala é um livro tão fantástico, que por mais que falemos a respeito, parece que ainda não conseguimos fazer jus a ele.




 Beijos açucarados








 

14 comentários:

  1. Você me convenceu, estou morrendo de vontade de ler este livro e saber um pouco mais sobre a trajetória de Malala.
    Que resenha fantástica, amei.
    Li o texto todo, adorei saber mais sobre o livro.
    Beijos!
    Gaby.

    umaleitoravoraz.blogspot.com

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  2. o livro é fantástico e emociona muito a sabermos as atrocidades que ocorrem com as mulheres em um pais totalmente visado aos direitos dos homens...vale muito apena ler

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  3. Necessito ler esse livro!!!
    Amo livros de outras culturas, principalmente as do lado lá do Oriente Médio e por aí.. kkkk só não curto muito cultura japonesa, sei lá, não me identifico, rsrsrs
    Sua resenha ficou linda, passou toda a sensibilidade e importância do livro, agora vou procurá-lo para ler logo!!!
    bjoooss

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  4. Achei um documentário bem escrito
    Quando da independência da Índia, os muçulmanos pediram um território para si, e lhes foi dado o Paquistão. Um país totalmente muçulmano em sua origem. Como bem observa Malala, queriam tanto se separar das outras religiões para brigarem entre si?
    Duas mulheres ficaram famosas na política do país: a primeira Malala, que, ao ver os homens perdendo uma batalha contra os ingleses, entrou no campo de batalha a declamar versos e a inciter os homens a se baterem pela liberdade. Benazir foi a política assassinada pelo Talibã.
    Malala, pela pena da jornalista inglesa, conta a história de sua região, onde se fala patcho e não Urdu, onde vive sua tribo, supostamente a tribo perdida de Israel, em um vale muito lindo e muito pobre.
    Discorre sobre a pobreza extrema, os paradoxos - gastam fortuna para ter uma bomba nuclear em detriment do bem estar do povo. Político é igual em todo canto, dominam os maus.
    Descreve como se engajou na luta do pai pela educação, em especial das meninas, como entrou em contato com jornalistas e politicos de todo o mundo, defendendo suas opiniões, como todo o país foi estraçalhado pelos Talibãs, que aparentemente eram protegidos as escondidas pelo governo.
    E como, depois de ser baleada, ficou mais famosa que o pai, que recebeu um cargo na ONU para poder viver com a família no exterior, pois, enquanto houveram fanáticos talibãs, serão alvos fáceis no Paquistão.
    E de como ela continua a ser a pessoa simples e centrada que sempre foi, não se deixando deslumbrar pela sociedade occidental, e desejando apenas voltar a seu vale lindo, a suas amigas e a seu ideal de um mundo igualitário para homens e mulheres.

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  5. Nossa..! A melhor resenha do livro "Eu sou Malala" que eu li! Traduziu em palavras tudo que eu consegui absorver com a leitura do livro.

    Parabéns pela resenha e pelo blog, Vivian!

    Ps.: Curtindo a página aqui e ansiosa por muitas outras resenhas.

    Abss,
    Sarah.

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  6. Vivian, Parabéns pela sua dedicação, ajudando a muitos que nem mesmo tempo para ler. Meu filho leu todo o livro e ainda pesquisei uma resenha, e por sorte foi a sua escolhida, para ajudá-lo no desfecho de seu trabalho. Agradecida e que Deus continue brilhando o seu caminho!

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  7. Nossa encantada com sua resenha,adoreeeeei.Parabéns suas palavras descrevem com muito precisão e simplicidade o livro maravilhoso.Obrigada.Que bom saber que os nossos jovens estão ativos na construção de um mundo melhor.

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  8. Estou estudando sobre Afeganistão e Paquistão, consequentemente, livros e filmes. tenho me encantado com o povo de lá e como somos ignorantes sobre a cultura deles. Estou lendo o livro e, além de tudo o que foi dito na resenha,é uma leitura muito agradável. Confesso que, ao ter um pouco o conhecimento sobre as etnias e geografia e história do lugar, o entendimento fica muito melhor sobre tudo o que aconteceu com a Malala. Deixo aqui uma sugestão de livro de escritor Afegão: "Syngué Sabour – A Pedra de Paciência"- e do filme E o "Buda Caiu de Vergonha" de jovem cineasta afegã.

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  9. Uma correção o filme é sobre Afeganistão, mas a cineasta é iraniana Hana Makhmalbaf

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  10. Uma correção o filme é sobre Afeganistão, mas a cineasta é iraniana Hana Makhmalbaf

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  11. Estou estudando sobre Afeganistão e Paquistão, consequentemente, livros e filmes. tenho me encantado com o povo de lá e como somos ignorantes sobre a cultura deles. Estou lendo o livro e, além de tudo o que foi dito na resenha,é uma leitura muito agradável. Confesso que, ao ter um pouco o conhecimento sobre as etnias e geografia e história do lugar, o entendimento fica muito melhor sobre tudo o que aconteceu com a Malala. Deixo aqui uma sugestão de livro de escritor Afegão: "Syngué Sabour – A Pedra de Paciência"- e do filme E o "Buda Caiu de Vergonha" de jovem cineasta afegã.

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  12. Muito bem feita essa resenha!! Agradeço sua dedicação em expor claramente pontos importantes que havia passado despercebidos em minha leitura. Sua resenha se destaca dentre várias que li.
    Muito obrigada .

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